Thursday, June 24, 2010

Mário



Volta que estás perdoado!

Monday, June 21, 2010

Para Saramago

Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem

E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.

Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Alberto Caeiro
O Guardador de Rebanhos - VIII

Sunday, June 13, 2010

Um mestre

Ralph Gibson Sleeping Chinaman, 1961

A não perder de vista.

Thursday, June 10, 2010

Por tu gal?

Alcobaça 2010

Tuesday, June 8, 2010

Estória

«Quando se põe um espelho a oeste da ilha da Páscoa, ele atrasa-se. Quando se põe o espelho a leste da ilha da Páscoa, adianta-se. Mediante delicadas medições pode encontrar-se o ponto em que esse espelho estará na hora, mas o ponto que serve para esse espelho não é garantia de que sirva para outro, pois os espelhos são feitos de diferentes materiais e reagem segundo lhes dá na telha. Assim, Salomón Lemos, o antropólogo de serviço da Fundação Guggenheim, viu-se morto de tifo ao olhar para o seu espelho de barbear, a leste da ilha. Ao mesmo tempo um espelhinho que ele esquecera a oeste da ilha da Páscoa reflectia para ninguém (estava perdido entre as pedras) Salomón Lemos com calções a caminho da escola, depois, Salomón Lemos nu na banheira a ser entusiasticamente ensaboado pelo pai e a mãe, depois Salomón Lemos disse ‘ah’ para grande emoção da tia Remeditos numa fazenda do município de Trenque Lauquen»
in Julio Cortázar, Histórias de cronópios e de famas, Ed. 70, Lx, 1987

Tuesday, June 1, 2010

Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres

Ponta Delgada, Mai'10

Fui ali a Ponta Delgada ou "larvatus prodeo"?