Tuesday, June 8, 2010

Estória

«Quando se põe um espelho a oeste da ilha da Páscoa, ele atrasa-se. Quando se põe o espelho a leste da ilha da Páscoa, adianta-se. Mediante delicadas medições pode encontrar-se o ponto em que esse espelho estará na hora, mas o ponto que serve para esse espelho não é garantia de que sirva para outro, pois os espelhos são feitos de diferentes materiais e reagem segundo lhes dá na telha. Assim, Salomón Lemos, o antropólogo de serviço da Fundação Guggenheim, viu-se morto de tifo ao olhar para o seu espelho de barbear, a leste da ilha. Ao mesmo tempo um espelhinho que ele esquecera a oeste da ilha da Páscoa reflectia para ninguém (estava perdido entre as pedras) Salomón Lemos com calções a caminho da escola, depois, Salomón Lemos nu na banheira a ser entusiasticamente ensaboado pelo pai e a mãe, depois Salomón Lemos disse ‘ah’ para grande emoção da tia Remeditos numa fazenda do município de Trenque Lauquen»
in Julio Cortázar, Histórias de cronópios e de famas, Ed. 70, Lx, 1987

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